Algo sempre
perceptível durante a graduação, é a diferença da maneira como os mais diversos
assuntos são abordados. Como exemplo, usarei a área da literatura. Durante o
ensino médio nos são ensinados os mais diversos conceitos, características e nomeações
historiográficas, porém nunca é mostrado o método como se chegou a tal
conclusão.
Simples, talvez
não muito, entretanto o conhecimento escolar diferencia-se em grande escala do
conhecimento acadêmico e científico.
Alguns fatores
podem ser os responsáveis pela necessidade de modificação, seria praticamente
impossível explicar no período escolar, por exemplo. Essa necessidade de
“descontextualizar” e apresentar conclusões sem especificação do método faz
parte de um conjunto de características do conhecimento que carecem de
transformação.
O conhecimento
escolar estrutura-se sobre algumas peculiaridades, tal conhecimento deve passar
por um processo de construção, ele deve ser modificado e adequado à diversas
condições, é possível citar, como exemplo, a quantidade de horas dedicadas a
cada disciplina. As transformações do conhecimento passam por determinados
“filtros”, dispositivos que a modificam, a hierarquizam e as selecionam
culturalmente.
Claro está que
não são apenas fatores simples que geram a necessidade de modificação dos
objetos de ensino, o conhecimento escolar é atrelado diretamente aos
conhecimentos socialmente produzidos (pesquisa, conhecimentos científicos,
etc.), cabe ao professor transformar esses conhecimentos, o professor é
produtor de conhecimento não só científico, mas, também, escolar. A ele cabe a
tarefa de saber adaptar os mais diversos conteúdos à uma linguagem mais simples
e que seja capaz de atingir os alunos conforme faixa etária e fazer haver
contemplação gradativa das necessidades curriculares.
Sendo assim, a
compreensão acerca da diferença do conhecimento científico e do conhecimento
escolar torna-se mais clara.
Retomando o
exemplo do ensino da literatura, se faz notável a diferença entre um e outro;
em diversos momentos é salientada a necessidade de romper com os padrões
escolares. Um bom exemplo que, nas atividades de monitor de literatura
brasileira, torna-se facilmente perceptível, é a dificuldade existente em
desfazer-se da segurança historiográfica aprendida na escola: deixar de pensar
o romantismo, barroco, realismo, naturalismo, etc. como “movimentos
literários”.
Roland Barthes,
em um texto publicado em 1988[1],
pensa alguns critérios acerca dos manuais (livros didáticos). Par Barthes, a literatura é assimilada à história da literatura, e essa
é um “objeto essencialmente escolar, que precisamente só existe por seu ensino[2]”
Os livros didáticos servem como eixos norteadores para tais
adaptações dos conhecimentos, porém, em muitos casos, seu uso se torna
exclusivo, daí parte-se do pressuposto de que o professor tenha conhecimento
prévio sobre o que está sendo tratado no livro e seja capaz de adaptá-lo. Por
isso Roland Barthes tece sua crítica acerca do próprio manual, com o exemplo do
ensino da literatura. Pois, a partir do momento em que apenas resultados são
apresentados, a operação de descontextualizar os conhecimentos fecha a
capacidade/necessidade de o aluno expandir sua percepção crítica sobre
determinados assuntos.
Claramente fecho-me ao campo da literatura, pois, além de
ser minha área de estudo, sempre foi a minha grande paixão. O pensamento não se
desdobra apenas no relance do olhar sobre a condição na qual a literatura se
encontra (hoje) dentro das escolas. O ensino não deveria ser apenas baseado em
diversas associações ao livro didático, nem a literatura, nem as outras áreas
do conhecimento.
O livro didático deve, sim, servir como base para o ensino,
no entanto não deve ter seu uso exclusivo, outras mídias e fontes estão
disponíveis, cabe a nós, professores, adaptarmos tais conhecimentos e sabermos
usufruir deles.
BARTHES, Roland. Reflexões a respeito de um manual. in: O Rumor da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.
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