segunda-feira, 14 de maio de 2012

Reflexão Acerca Do Conhecimento Transmitido Na Escola.


Algo sempre perceptível durante a graduação, é a diferença da maneira como os mais diversos assuntos são abordados. Como exemplo, usarei a área da literatura. Durante o ensino médio nos são ensinados os mais diversos conceitos, características e nomeações historiográficas, porém nunca é mostrado o método como se chegou a tal conclusão.
Simples, talvez não muito, entretanto o conhecimento escolar diferencia-se em grande escala do conhecimento acadêmico e científico.
Alguns fatores podem ser os responsáveis pela necessidade de modificação, seria praticamente impossível explicar no período escolar, por exemplo. Essa necessidade de “descontextualizar” e apresentar conclusões sem especificação do método faz parte de um conjunto de características do conhecimento que carecem de transformação.
O conhecimento escolar estrutura-se sobre algumas peculiaridades, tal conhecimento deve passar por um processo de construção, ele deve ser modificado e adequado à diversas condições, é possível citar, como exemplo, a quantidade de horas dedicadas a cada disciplina. As transformações do conhecimento passam por determinados “filtros”, dispositivos que a modificam, a hierarquizam e as selecionam culturalmente.
Claro está que não são apenas fatores simples que geram a necessidade de modificação dos objetos de ensino, o conhecimento escolar é atrelado diretamente aos conhecimentos socialmente produzidos (pesquisa, conhecimentos científicos, etc.), cabe ao professor transformar esses conhecimentos, o professor é produtor de conhecimento não só científico, mas, também, escolar. A ele cabe a tarefa de saber adaptar os mais diversos conteúdos à uma linguagem mais simples e que seja capaz de atingir os alunos conforme faixa etária e fazer haver contemplação gradativa das necessidades curriculares.
Sendo assim, a compreensão acerca da diferença do conhecimento científico e do conhecimento escolar torna-se mais clara.
Retomando o exemplo do ensino da literatura, se faz notável a diferença entre um e outro; em diversos momentos é salientada a necessidade de romper com os padrões escolares. Um bom exemplo que, nas atividades de monitor de literatura brasileira, torna-se facilmente perceptível, é a dificuldade existente em desfazer-se da segurança historiográfica aprendida na escola: deixar de pensar o romantismo, barroco, realismo, naturalismo, etc. como “movimentos literários”.
Roland Barthes, em um texto publicado em 1988[1], pensa alguns critérios acerca dos manuais (livros didáticos). Par Barthes, a literatura é assimilada à história da literatura, e essa é um “objeto essencialmente escolar, que precisamente só existe por seu ensino[2]
Os livros didáticos servem como eixos norteadores para tais adaptações dos conhecimentos, porém, em muitos casos, seu uso se torna exclusivo, daí parte-se do pressuposto de que o professor tenha conhecimento prévio sobre o que está sendo tratado no livro e seja capaz de adaptá-lo. Por isso Roland Barthes tece sua crítica acerca do próprio manual, com o exemplo do ensino da literatura. Pois, a partir do momento em que apenas resultados são apresentados, a operação de descontextualizar os conhecimentos fecha a capacidade/necessidade de o aluno expandir sua percepção crítica sobre determinados assuntos.
Claramente fecho-me ao campo da literatura, pois, além de ser minha área de estudo, sempre foi a minha grande paixão. O pensamento não se desdobra apenas no relance do olhar sobre a condição na qual a literatura se encontra (hoje) dentro das escolas. O ensino não deveria ser apenas baseado em diversas associações ao livro didático, nem a literatura, nem as outras áreas do conhecimento.
O livro didático deve, sim, servir como base para o ensino, no entanto não deve ter seu uso exclusivo, outras mídias e fontes estão disponíveis, cabe a nós, professores, adaptarmos tais conhecimentos e sabermos usufruir deles.

BARTHES, Roland. Reflexões a respeito de um manual. in: O Rumor da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.


[1]Reflexões a respeito de um manual. In: O Rumor Da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.
[2] idem

domingo, 13 de maio de 2012

Acerca Das Teorias Curriculares....


Por currículo, podemos interpretá-lo como eixo norteador de todo o desdobramento dos conhecimentos escolares posteriores. O currículo escolar pressupõe tudo o que é possível ensinar, também serve como indicador do caminho a ser seguido a respeito das avaliações, métodos, ordem cronológica do que será ensinado, etc.. De forma geral, o currículo é adaptável às mais diversas estruturas escolares, mas em seu cerne prevalece a estrutura proposta pelo governo.
As teorias curriculares se diferenciam em alguns aspectos e importâncias que atribuem a determinados conceitos, alguns desses conceitos são cultura, sociedade, conhecimento, aprendizagem, etc..
Tomamos primeiramente como exemplo, pensa-se as teorias curriculares não críticas. Tais teorias possuem uma visão tradicionalista e técnica do currículo; são currículos neutros que pensam na escola como uma fábrica. Essa teoria segue o exemplo Taylorista, onde a escola funciona como uma empresa. Essa linha de pensamento, Taylorismo, possui a padronizção do ensino e das práticas pedagógicas em que os alunos são preparados exclusivamente para atuarem no mercado de trabalho. O professor é tratado como autoridade, enquanto o aluno se encaixa como indivíduo submisso ao processo de escolarização.
Na década de 60, surgem as primeiras teorias criticas à pedagogia tradicional, as críticas são embasadas sobre o questionamento sobre a desigualdade no ensino, pois a pedagogia tradicional encontrava-se fechada a apenas um modelo estruturado de ensino. É Indispensável a compreensão desta teoria, pois ela atua como ligação entre o corpo docente e o corpo discente, teoricamente é através de fatores culturais que se torna possível adequar as aulas para as mais diversas camadas sociais. O professor deixa de atuar como plena autoridade, enquanto os alunos deixam de ser apenas submissos às ordens do professor. Assim, o professor torna-se mediador de conhecimentos. Paulo Freire, por exemplo, foi um dos idealizadores desta ideia.
As teorias curriculares pós críticas vão mais longe, pois além de pensar no professor como mediador dos saberes, os ideais curriculares também são mais abrangentes, discussões como raças, gêneros, etnias, cultura, sexualidade. Nesse caso, o currículo proporciona maior flexibilidade e facilidade para o trabalho do professor dentro de sala de aula, pois permite que os mais diversos assuntos sejam abordados e diferentes linguagens são passíveis de utilização.
É importante ressaltar o fato de que todo o currículo possui seu “currículo oculto”, basicamente, todas as ideias escolares, ideologias, entre outros aspectos, são componentes integradores do “currículo oculto”, carrega esse nome, pois muitas dessas ideologias não estão formalmente colocadas no papel, nem são abertamente citadas, porém são, também, componentes do currículo geral.

REFERÊNCIAS

CANDAU, V. M. e MOREIRA, A. F. B. Currículo, conhecimento e cultura. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília, 2007.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ARTMED, 2000.